Oleiros

Historia

 

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Oleiros | Coreto do Jardim

O passado das terras é mais longo do que o caminho para as alcançar.

Oleiros, a vila que sobrevive desde tempos medievos, é testemunho de um passado que importa ainda reconstituir, documentar, delimitar a sua exacta extensão, lembrar os forais concedidos e os esforços colocados nas tentativas de restauro respigadas em velhos diplomas que chegam até ao rei Venturoso.

A setentrião, ladeada pela serra da Rasca e Alvelos, no meridião pelas alturas serranas da Lontreira ou Isna e Cabeço da Rainha, miradouros naturais da agreste beleza paisagística, Oleiros emerge no alargado vale junto à ribeira apertada entre as pertenças ao Estreito, Oleiros e Sertã, com o seu casario branco mesclado pela parda cor xistosa, que algum apontamento recente pontilha de novidade. Junto à ribeira, florescem os campos de cultivo e vasto arvoredo de sombra refrescante a desafiar os rigores do estio, mas também a lembrar a gelidez de Invernos duros e tempestivos.

Sede de concelho, composto por doze freguesias, maioritariamente rurais integra-se na região Centro e na sub-região do Pinhal Interior Sul, ocupando aproximadamente uma área de 471 km2, com 6677 habitantes, de acordo com os censos de 2001, tendo como capital de distrito a cidade albicastrense. Atravessa o seu território no limite norte, grosso modo, uma das grandes vias fluviais lusitanas o rio Zêzere.

Etimologicamente, o termo Oleiros parece derivar da palavra latina ollarium ‘o fabricante ou negociante de panelas de barro’, apesar de não haver resquícios na existência de oficinas artesanais, existindo, contudo, em abundância, espécies de barro “greda argila…”, matéria prima indispensável para o efeito. Também há quem advogue que a palavra derivará de olleiros, ‘olheiros ou olhos de água, vulgo nascentes’, por na vila se acharem algumas fontes.

Por carta régia de 13 de Junho de 1194, D. Sancho I, sua esposa, a rainha D. Dulce e respectivos infantes, doaram, em definitivo, a D. Afonso Pelágio, Prior dos Hospitalários, e a todos os irmãos desta Ordem, uma terra à qual deu o nome de Belueer (Belver), além de vastos domínios territoriais nas duas margens do Tejo, entre os quais se compreende Oleiros. Anos volvidos, tais territórios são integrados no Grão-Priorado da Ordem do Hospital ou dos frades malteses, com sede na vila do Crato.

A 6 de Dezembro de 1232, um tal D. Mendo Gonçalves, Prior do Crato concede foral à vila oleirense. Centúrias depois, D. Manuel I renova aquele foral a 20 de Outubro de 1513, constituindo-se assim, definitivamente, como terra autónoma, acção extensível ao vizinho concelho de Álvaro, hoje área integrante do concelho de Oleiros.

Segundo Pimentel in “Memórias da Villa de Oleiros”, no ano de 1762, aquando das invasões espanholas, entre outras pilhagens, foi roubado o maior sino da torre da igreja de Oleiros. Pouco depois o bronze que fora cobiçado pelos espanhóis voltava a repicar na torre da igreja como que a dizer aos Oleirenses que descansassem, pois os espanhóis já se tinham retirado.

No ano de 1791 foi criado um corpo de Ordenanças em Oleiros, tendo sido nomeado Capitão-Mor Francisco Rebelo D’Albuquerque Pinto Maldonado, da mesma vila, por D. João VI, em carta patente de 31 de Maio do mesmo ano. O concelho de Oleiros pertencia à provedoria de Tomar.

No dia 2 de Fevereiro de 1811 ocorreu a passagem de tropas francesas pela vila de Oleiros, na sequência da terceira invasão dos franceses, que teve início em 1810. Um dos grupos de reforços seguiu pela estrada nova, que tinha sido aberta pelo cume das serras, entre as vilas do Fundão e Abrantes, para se reunir ao exército nas linhas de Torres Vedras. Assim que constou que esta divisão iria passar por esta estrada, a população de Oleiros começou a fugir, de modo a deixar as casas inteiramente despidas. A população retirou-se na direcção da margem esquerda do Zêzere, flanqueando a divisão francesa, dirigindo-se para os lugares de Abitureira, Rouco e Cambas.

Com a vinda dos soldados franceses vieram também imensas munições para fornecimento de canhões e espingardas. Os oficiais escolheram para paióis os lugares mais seguros e de mais fácil vigilância. Um dos sítios que lhes pareceu ideal terá sido a Capela de Santa Margarida, dada a sua situação altaneira. A capela ficou repleta de explosivos até que os franceses se decidiram ir embora. Mas, ao retirarem-se deixaram lá dentro alguns barris de pólvora e, de seguida, pegaram fogo à capela. Na deflagração foi “levada pelos ares” a imagem da padroeira da capela, Santa Margarida, que acabou por ser encontrada, no sítio que ainda hoje se denomina “horta da Santa”, estranhamente intacta. Os Oleirenses consideraram o facto como um novo milagre. Este novo milagre sucedeu-se a um outro que tem sido transmitido de geração em geração desde há séculos. Em tempos, toda a região foi assolada por uma terrível praga de gafanhotos que nada poupavam O povo começou então a fazer romarias constantes à ermida de Santa Margarida implorando ajuda para um combate que não conseguia vencer. A santa atendeu-os pois algum tempo depois começou-se a ver grandes filas de gafanhotos encaminhando-se para a ribeira onde morriam afogados. Nem um escapou, ficando Oleiros livre de tão grande flagelo. Em agradecimento, os seus habitantes decidiram celebrar todos os anos uma grandiosa festa em honra de Santa Margarida, o que têm fielmente cumprido.

Após 1834, o território de Oleiros foi consideravelmente aumentado, mas não obstante o Governo extinguiu o concelho, anexando as suas freguesias a outros: as de Orvalho e Vilar Barroco ao Fundão, a de Sarnadas de S. Simão ao de Castelo Branco, a de Cambas ao de Pampilhosa, a de Isna ao de Proença-a-Nova, e todas as outras ao da Sertã. No entanto esta decisão foi anulada em 1869, estabelecendo novamente Oleiros como concelho, tal como fora nos 700 anos anteriores.

A vila de Oleiros teve um pelourinho na praça principal. Em 1824, o então presidente da Câmara, mandou que o pelourinho fosse recuperado a mandou-lhe fazer uma base nova com dois degraus circulares. A encimá-lo colocaram um elegante galo dourado, de folha, tendo por cima a cruz de Malta. Este pelourinho foi vendido no século XIX (1880), tal como aconteceu ao pelourinho da vila de Álvaro, que chegou a ser um concelho independente de Oleiros (foral de 1540).